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terça-feira, 13 de julho de 2010

Relação Íntima


Minha adolescência foi marcada por uma busca desigual pelo o que eu achava ser amor, pelo o que achávamos ser relacionamento: sexo. Tudo o que eu imaginava de mais íntimo, era estar nu frente a uma mulher. No meu grupo de convívio isso soava como um alvo, principalmente durante minha iniciação à adolescência – meus treze anos –, e como lugar comum no meio da mesma – entre 16 e 19 anos. Fiz muito sexo com muitas mulheres diferentes. Infiltrei-me em outros grupos de convívio, principalmente os que estavam ligados à classe artística. Em todos os ambientes sempre senti que a intimidade estaria ligada a uma boa relação sexual. Até que cresci e me casei.


No casamento tudo muda, nenhum casamento subsiste baseado apenas em sexo. Perdoe-me, mas vou reformular o começo da minha frase: nenhum bom casamento. Sei que muita gente se arrasta por anos, vivendo um inferno de convivência, só por possuir um momento “sertanejo” nas relações sexuais – “entre tapas e beijos....Um casal que se ama até mesmo na cama provoca loucuras”. Não dá pra não rir, tampouco não dá pra não achar lamentável. Pela conveniência a pessoa pode ficar anos numa letargia conjugal, por causa de filhos, por causa de dinheiro, e como já disse até por causa de uma boa transa. O que eu considero mais presente nesses casos é que o alvo de um relacionamento não foi atingido: a intimidade.


Ser íntimo é mais do que ser bom em sexo. Sexo é um ingrediente fantástico, é como a alcaparra num salmão ao molho de maracujá. Eu detestaria comer alcaparras ao molho de maracujá, ou uma sopa de orégano, mas adoro orégano na minha sopa de legumes. Ingrediente é parte, mas não o todo. O todo para mim é a intimidade e no caso de um casamento, o sexo é um ingrediente fabuloso para se alcançar o prato ideal.


Bom, eu tenho apenas onze anos de casado, sei que é pouco, mas já adianto aos que nem se aventuraram ainda, ou aos que estão começando, que a monotonia sexual não precisa ser uma “verdade incondicional” do casamento. Era o que eu escutava na minha adolescência: aproveite agora porque depois do casamento, meu amigo, será a vida inteira transando com uma só, e será muito chato, mas muito chato mesmo! Não escutei isso uma vez só, escutei milhares! Não sei se será assim pra sempre, mas decidi escrever sobre isso depois de uma noite fantástica, inclusive sexualmente falando.


Saímos com as crianças para passear pela tarde, à noite fomos – agora sozinhos – assistir “A alma boa” no teatro, jantamos num lugar bem aconchegante e onde terminamos? Nela, não para dormir – como me disseram que seria – mas para usarmos as poucas últimas horas mágicas que tínhamos no único ato que aplacaria o fogo da paixão que nos consumia por todo o dia. É lógico que não somos feitos de momentos mágicos como este, mas me disseram que eles nem ocorrem com as esposas, só com as amantes. Mentira boba, mentira de adulto que não soube crescer. No meu casamento, a cada relação sexual, nos descobrimos mais um pouco, nos proporcionamos um novo prazer – é bom ressaltar que, particularmente, considero isso impossível em um ambiente repressor. E o que me inspirou a escrever este texto é que juntos, eu e minha esposa, chegamos à conclusão de que não foi o número de transas que nos levou a este estado de alumbramento, porém a intimidade. Prazer em conversar, em sair sem mais ninguém, prazer em correr de volta pra casa pra assistir a um vídeo juntos, prazer em levarmos as crianças para a praça, prazer em prepararmos “a quatro mãos” almoços e jantares sublimes, prazer em deitar ao fim de um dia cansativo e nos acarinharmos – ainda que não seja para o sexo. Anotem aí alguns ingredientes!


O prato principal – a relação íntima – é agridoce. Citei alguns ingredientes do lado doce do prato, mas envolve muita tensão, diálogo contraditório, choro, em sua composição. A diferença de um prato comum é que quando erramos nos temperos ácidos, salgados ou amargos, existe sempre a possibilidade do recomeço, sem que o prato perca o sabor. Para quem se entrega ao mistério de caminhar em intimidade, de corpo e alma, tudo coopera para o aprofundamento da relação, e é isso que dá mais sabor a cada ingrediente. No caso do casamento, é isso que dá mais sabor ao ingrediente chamado sexo.

Mas a regra vale para todo tipo de relação. Tudo que fica no superficial, no instantâneo, não tem sabor, nem dá vontade de preparar – deve ser por isso que miojo demora três minutos para ficar pronto, se fossem cinco eu desistiria!

1 comentários:

Unknown disse...

Cara se a eternidade começa aqui com essas coisas boas,, imagine a continuidade.. O sexo é como a pimenta no acaraje ........kkkkkkkk.
Agora pense comer pimenta sozinha sem acaraje....;
olha que a policia Assem vai te caçar ..rsrsr

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